sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Ex-presidente da Finlândia recebe o Nobel da Paz


O ex-presidente da Finlândia Martti Ahtisaari venceu o prêmio Nobel da Paz 2008. Segundo a Fundação Nobel o prêmio foi dado por "seus importantes esforços em diversos continentes por mais de três décadas para resolver conflitos internacionais". Ele foi responsável nas negociações de paz em várias partes do mundo, principalmente no Timor Leste, Namibia, Iraque e nos Balcãs. Uma de suas missões mais recentes foi como enviado especial da ONU às negociações sobre o processo de status do Kosovo, que declarou independência da Sérvia este ano.
Ahtissari, nascido em 1937, foi presidente da Finlândia entre 1994 e 2000, e desde então se distinguiu por suas diversas ações como mediador de conflitos. Em 2005, ele mediou o acordo na província de Aceh, na Indonésia. O diplomata também teve um papel importante na Namíbia e no Iraque e contribuiu para a resolução de conflitos na Irlanda do Norte, Ásia Central e no Chifre da África, segundo o anúncio do comitê norueguês. Ahtisaari disse à rede norueguesa NRK que estava "muito satisfeito e agraecido" em receber o prêmio.

Ao apontar Ahtisaari, o comitê do Nobel volta seu foco para o tradicional trabalho pela paz, após premiar o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, no ano passado. "Ele é um campeão mundial quando se fala de paz e ele nunca desiste", resumiu Ole Danbolt Mjoes, presidente do comitê norueguês de premiação do Nobel. "Através de seus esforços incansáveis e bons resultados, ele mostrou o papel que a mediação de vários tipos pode ter na resolução de conflitos internacionais", escreveu o comitê em sua argumentação para apontar o premiado.

O texto do comitê mencionou os trabalhos de Ahtisaari na Namíbia, em Aceh, na Indonésia, em Kosovo e no Iraque. Desde 2005, o nome do premiado deste ano é mencionado entre os prováveis ganhadores. Em agosto daquele ano, Ahtisaari negociou o fim de um conflito na Indonésia que durava mais de 140 anos, ao realizar um acordo entre o governo indonésio e os líderes da guerrilha separatista de Aceh. Ele iniciou e mediou as conversas de paz na Finlândia - o acordo de paz foi firmado em Helsinque. "Ele também fez contribuições construtivas para a resolução de conflitos na Irlanda do Norte, na Ásia Central e no Chifre da África", apontou o texto.

O ex-presidente finlandês expressou satisfação e alegria após receber o Prêmio Nobel da Paz por seu papel como mediador em conflitos internacionais. "A mais importante de minhas missões foi certamente a da independência da Namíbia. Fiquei ocupado com esse processo durante 13 anos. Aceh e Kosovo foram também muito importantes", disse o ex-presidente finlandês. Ele ressaltou que o dinheiro do prêmio o ajudará "a financiar meu instituto Crise Management Initiative", o qual necessita de fundos. Ahtisaari disse esperar que o prêmio atraia mais recursos para seu trabalho em prol da paz. "Há sempre muitas possibilidades. Eu realmente espero, agora que eu recebi o prêmio, que seja mais fácil financiar as organizações que dirijo." Ele afirmou que esse financiamento é necessário e "nunca é o suficiente".

O vencedor do Nobel recebe uma medalha de ouro, um diploma e o prêmio de 10 milhões de coroas suecas, o equivalente a US$ 1,42 milhão. Ahtisaari vai receber o prêmio em Oslo no dia 10 de dezembro, aniversário de morte, em 1896, do inventor sueco Alfred Nobel. O diplomata foi escolhido por um grupo secreto de cinco membros do Comitê Norueguês, em meio a 197 indicados.

Segundo a BBC, pela tradição, os nomes dos candidatos não foram divulgados. Acredita-se que o político de oposição do Zimbábue Morgan Tsvangirai e a ex-deputada colombiana Ingrid Betancourt estivessem entre eles. Os dissidentes chineses Hu Jia e Gao Zhisheng também estariam na lista, o que levou o governo da China a divulgar um aviso de que o prêmio deveria ir para a "pessoa certa".

Mediador de conflitos

Primeiro finlandês a ganhar o prêmio, Ahtisaari foi nomeado enviado especial da ONU para a Namíbia em 1971. Naquela época, guerrilhas desse país enfrentavam o regime de apartheid da África do Sul. Ele depois foi nomeado vice-secretário-geral da ONU, e em 1988 foi enviado à Namíbia para liderar uma força de mantenedores de paz durante a transição rumo à independência desse país.

Ahtisaari era um professor primário quando ingressou na diplomacia finlandesa em 1965. Ele passou 20 anos no exterior, primeiro como embaixador na Tanzânia e depois trabalhando nas Nações Unidas. Em 1994, Ahtisaari aceitou ser candidato à presidência pelo Partido Social-Democrata e venceu a eleição. Ele não tentou se reeleger em 2000, e desde então trabalhou pela paz internacional. Em 2007, a entidade mantida por Ahtisaari, a Crisis Management Initiative, iniciou conversas secretas na Finlândia entre grupos iraquianos sunitas e xiitas, para discutir um projeto para a paz no país.

Ahtisaari trabalhou ainda tentando resolver os problemas na ex-Iugoslávia. O primeiro-ministro de Kosovo, Hashim Thaci, afirmou que a escolha deste ano do Nobel era "a decisão certa, para o homem certo".

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