quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Centenário atrai milhares de visitantes à sua terra natal


O presidente da Junta de Freguesia de São Martinho de Anta, Mário Vilela, revelou hoje à Agência Lusa que a terra natal do escritor recebe uma média anual de cerca de 5.000 visitantes.


Adolfo Correia da Rocha, conhecido como Miguel Torga, foi um dos maiores escritores portugueses do século XX, tendo nascido a 12 de Agosto de 1907, em São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa.

Mas no ano do centenário e «guiados» pela obra do autor e em busca dos locais que lhe serviram de inspiração, o número de visitantes, segundo o autarca, «mais do que duplicou».

Para acolher os visitantes na sua terra natal, vai ser construído o Espaço Miguel Torga, num projecto assinado pelo arquitecto Eduardo Souto Moura orçado em cerca de 1,7 milhões de euros.

O presidente da Câmara de Sabrosa, José Marques, anunciou que o concurso público para os projectos de especialidade desta obra deverá ser aberto ainda este mês e que se prepara também a sua candidatura ao Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN).

O grande objectivo é que, segundo o autarca, a construção do Espaço Torga se inicie ainda no decorrer de 2008 para que possa abrir as portas em meados de 2009.

A direcção técnica da estrutura ficará a cargo do escritor António Pires Cabral, também responsável pelo Grémio Literário de Vila Real, pretendendo-se que funcione em articulação e num trabalho em rede com outros centros literários.

Esta iniciativa da Câmara de Sabrosa, acolheu todo o apoio do primeiro-ministro, José Sócrates, que, no decorrer de uma visita a São Martinho de Anta em Junho, afirmou que foi «através de Torga» que aprendeu a conhecer-se a si próprio e a Portugal.

A filha do poeta, Clara Rocha, também se associou ao projecto e disse esperar que este espaço se transforme num centro de cultura que interaja outros espaços de homenagem aos escritores Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco.

Actualmente é Mário Vilela que desempenha, muitas vezes, o papel de guia dos visitantes por São Martinho de Anta e pelos locais de Miguel Torga, aquele que diz ter sido um «grande amigo».

Segundo disse, a viagem pelo «reino maravilhoso» de Torga poderá começar precisamente na sua terra natal, nomeadamente do Largo do Eiró, onde fica o velho negrilho que o poeta admirou e eternizou na sua escrita.

Depois, pode-se seguir até à sua casa, à ermida de Nossa Senhora da Azinheira ou visitar o santuário rupestre de Panóias, já em Vila Real.

O Douro inspirou-lhe numerosos poemas, dispersos pelos sucessivos volumes do seu Diário, e foram vários os locais escolhidos pelo autor para contemplar a paisagem, designadamente o miradouro de São Leonardo da Galafura, onde, como descreve o escritor, «se avista o rio ao fundo a serpentear entre as montanhas».

Aqui o visitante está em pleno Douro Vinhateiro, classificado pela UNESCO como Património Mundial, e pode ainda subir ao miradouro de São Salvador do Mundo, em São João da Pesqueira, e admirar o «paraíso suspenso» de Torga, constituído pela quintas da região, produtoras de Vinho do Porto.

Miguel Torga, que faleceu em 17 de Janeiro de 1995, nasceu no seio de uma família de camponeses, emigrou para o Brasil aos 13 anos, regressou com 18 e, já em Coimbra, concluiu o curso do liceu e formou-se em Medicina.

O escritor foi o primeiro português a receber o Prémio Camões, em 1989, e entre algumas das suas principais obras, em prosa, destacam-se os Contos da Montanha, Bichos, A Criação do Mundo, Senhor Ventura e Vindima.

Na poesia realce para Rampa, Abismo, Lamentação, Libertação e Poemas Ibéricos, além dos 16 volumes de Diários.

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