segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Dezenas de mulheres tomam o poder no PSD-Porto

São advogadas, professoras, técnicas de contas, economistas, psicólogas. Nas últimas eleições para a distrital do PSD-Porto, as mulheres ocuparam o poder. Mais precisamente, parte do poder. Estão nos órgãos executivos, dirigem a Academia Sá Carneiro para formação de bases e de quadros e integram um secretariado distrital feminino de apoio à comissão política. Empurradas pela lei da paridade que impõe quotas aos partidos? Talvez. Mas a mudança está aí.

Cavaco Silva? “A referência.” Francisco Sá Carneiro? “Uma reminiscência de, na altura, me parecer que alguém na família morreu. Nada mais.” Sem hesitações, Gabriela Queiroz, 31 anos, advogada, e uma das três deputadas municipais (entre treze eleitos pelo PSD) do Porto, define assim as duas figuras porventura mais emblemáticas do partido onde milita desde os seus tempos de estudante de Direito na Universidade Católica.

Ela é, também, uma das três mulheres que integram um dos novos órgãos criados na distrital social-democrata portuense - a Academia Sá Carneiro - para a “formação cívica e política de novos quadros”, dinamizar grupos de reflexão política e cativar novos militantes. “Gosto muito disto, sem depender da política. Dá-me gozo”, afirma, quase num desafio pessoal de procurar as verdadeiras razões que afastam os cidadãos da política, em especial as mulheres.

“Não há mulheres na política porque não há apetência. Não consigo convidar nenhuma amiga minha a participar numa conferência. Há um afastamento e nas mulheres é mais profundo”, reconhece Gabriela Queiroz. “As mulheres não vivem de politiquices, de traições, não gostam de participar em decisões só por táctica”, diz.

Pensar em 2009

Aprovada a lei da paridade - que obrigará os partidos a incluir nas suas listas pelo menos um terço de mulheres, a distrital do PSD-Porto, liderada por Marco António Costa, decidiu convocá-las para as primeiras linhas. Rompeu com a tradição do domínio masculino: na comissão política distrital, dos 15 membros eleitos, seis são mulheres.

Para além da Academia Sá Carneiro, foi também instituído pela primeira vez um secretariado distrital feminino permanente, um órgão consultivo de apoio à comissão política, que integra mais sete mulheres. Caber-lhes-á trazer mais participação feminina para a política, tendo como horizonte as eleições de 2009.

Clarisse Sousa, 56 anos, líder da concelhia de Matosinhos, está habituada a “lutas” e é firme nas convicções. “A participação conjunta de mulheres e homens levará à definição de políticas mais justas e abrangentes”, assegura esta solicitadora, fundadora da Cruz Vermelha em Matosinhos e dinamizadora de associações de mulheres e crianças em risco.

A ambição condimenta-se, assim, com a pragmática necessidade de formar novos quadros, antecipando 2009, um ano em que haverá três actos eleitorais e com muitas listas a precisarem de mulheres.

“O PSD acordou cedo para a necessidade de, daqui a dois anos, termos listas paritárias. Ou esperávamos e depois tínhamos de telefonar para a amiga, a prima, a namorada e a avó, ou preparávamo-nos para isso com competência e critério. E isso só se faz com algum tempo”, diz Gabriela Queiroz.

“Havia muitos militantes inactivos e que agora estão disponíveis. Nessa falange de apoio, há muitas mulheres”, explica, acrescentando que Marco António Costa teve “a inteligência” de integrar mulheres nos órgãos executivos do partido.

Contra as quotas (como de resto se manifesta também Gabriela Queiroz), Maria da Trindade Vale, vice-presidente da comissão política do PSD-Porto, antecipa mudanças na forma de fazer política. “A mulher é um factor de equilíbrio, é mais ponderada, temos muito mais poder de sacrifício do que alguns homens”, reflecte.

Licenciada em Ciências da Educação, 56 anos, esta professora tem um longo palmarés na educação de adultos e actualmente preside à Associação para o Desenvolvimento Integrado da Cidade de Ermesinde (Valongo).

“A minha política foi sempre trabalhar com as pessoas, estar com elas e encontrar soluções”, diz. Aparentemente, será isso que move todas estas mulheres sociais-democratas, com a certeza de que “é sempre preciso lutar para defender a igualdade de género”.

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