quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Derrota de Chávez abre nova 'era' na política venezuelana

A rejeição da proposta de reforma constitucional impulsionada pelo presidente Hugo Chávez no referendo do último domingo, 2, deve marcar uma nova fase na política venezuelana, com uma recomposição de forças tanto entre as fileiras chavistas como na oposição. Se, para os seguidores do líder bolivariano o desafio será encontrar um nome forte o suficiente para sucedê-lo nas eleições presidenciais de 2012, entre os oposicionistas a principal dificuldade será consolidar um projeto de país capaz de se sobrepor à profunda divisão na população venezuelana.

Embora a grande novidade eleitoral trazida pelo referendo seja a limitação do exercício de Chávez a seu atual mandato - o que não garante por si só uma adesão à candidatura oposicionista -, o resultado do pleito pode ser interpretado como um sinal de que parte do eleitorado chavista não está disposta a compactuar com todas as propostas do presidente.

"A grande maioria dos venezuelanos segue apoiando Chávez como presidente, mas não como ideólogo ou visionário de um 'socialismo do Século 21'", explica o analista venezuelano Oscar Reyes, professor da Universidade Católica Andrés Bello e dirigente do partido de centro Um Novo Tempo.

Para Reyes, uma eventual virada no quadro político venezuelano deverá vir por meio desse eleitor, que se mostrou sensível a um projeto excessivamente centralizador de Chávez. "Digo que o 'não' ganhou graças ao voto do chavismo crítico", pondera ele, citando como exemplos importante figuras chavistas que declararam seu voto pelo "não". É o caso dos políticos do partido Podemos, do ex-ministro da Defesa de Chávez Raúl Baduel e da ex-mulher do presidente Maria Isabel.

"Mas esse voto não deixou de ser vermelho para tornar-se azul. É um voto rosado, que critica esse projeto de socialismo autoritário, mas que segue vinculado ao presidente", ressalta.

Por isso, destaca o analista, será necessário à oposição azeitar suas propostas numa "alternativa viável de centro esquerda" capaz de consolidar uma nova maioria no país.

Briga intestinal

Do outro lado do espectro político, a Venezuela assistirá nos próximos anos a uma "briga de vida ou morte" dentro das fileiras do chavismo para determinar quem ficará com a herança política do presidente, analisa o professor Alfredo Ramos Jiménez, diretor do Centro de Investigação de Política Comparada da Universidade dos Andes.

Segundo ele, o resultado da votação do último domingo abre entre os governistas uma corrida cujos vencedores estão longe de serem definidos. Isso porque, diferentemente de processos em que os partidos políticos tem papel central na definição de candidatos, o chavismo configura-se como um movimento que enfraquece a dinâmica partidária.

"Vai haver uma luta intestinal dentro do movimento chavista, que não é um partido. Chávez tentou criar essa força com o seu Partido Unido Socialista, mas isso não é um partido, é um movimento carismático, ao redor de um líder messiânico. Em 2008 teremos as eleições para prefeito e governador, quando veremos uma luta de morte dentro do chavismo", analisa Jiménez.

Embora não muito animadora, a perspectiva não deve implicar, no entanto, numa mudança na maneira de Chávez de fazer política, avalia o professor. "Ele não vai se corrigir, mas não acho que terá futuro. (Com a derrota,) a imagem dele, de um candidato triunfador e invencível, já não é a mesma nem entre a base do movimento que segue um líder carismático", diz.

Ao contrário de Reyes, Jiménez vê o resultado do plebiscito não apenas como uma rejeição às propostas da reforma constitucional, mas também como um voto de desconfiança em Chávez. "Eu diria que foi um voto combinado. Contra Chávez e contra a proposta. O presidente fez todo o esforço para identificar a proposta à sua pessoa, ou seja, converteu o referendo em um plebiscito. Então é um rechaço ao que Chávez encarna", arremata.

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