quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Fogo na Petrogal teve origem em fuga de gasolina

As chamas voltaram, ontem, à refinaria da Petrogal de Leça da Palmeira, em Matosinhos. Uma fuga de gasolina não detectada atempadamente drenou uma quantidade desconhecida de combustível para o sistema de águas pluviais e deste para a bacia de retenção da ETAR daquela unidade industrial. Às 11 horas, os gases inflamaram-se e o céu de Matosinhos voltou a encher-se de uma espessa nuvem de fumo preto. O incêndio - que ocorre menos de um mês depois de outro sinistro, também na bacia de retenção, que provocou dois feridos - foi debelado em cerca de cinco minutos.

O fumo, muito negro, seguido de diversas explosões, alertou os trabalhadores que procedem às obras de requalificação da marginal de Leça. "Nós não chegamos a assustar-nos. Vimos o fumo e algumas chamas e ouvimos as explosões. Quem se assustou foi o pessoal da refinaria, que desatou a correr. Ardeu aí uns 15 minutos, mas nem os carros pararam na marginal. Houve um ou outro condutor que inverteu a marcha, mas nada mais", recordou ao JN José Gomes, operário.

O serviço militar cumprido na ex-colónias habituou Manuel Correia Mucha ao som das explosões, mas se recuasse 20 anos no tempo "não tinha construído aqui o restaurante". "Não tenho medo, mas isto é muito desagradável, pois os incidentes são constantes e os clientes também não se sentem à vontade", confessou o proprietário do restaurante Rochedo.

Vivo na memória está o grave acidente de há nove anos, com a monobóia, e que provocou dois mortos. "Aí fugi com a família e só parei em Famalicão. As explosões começaram na praia mas depois comecei a senti-las em frente ao restaurante e achei que era melhor ir embora", recordou.

Ontem, as chamas foram combatidas pelo corpo de bombeiros da refinaria, auxiliados, posteriormente, por sete homens dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos- Leça. "Fomos chamados às 11.25 horas e demos o serviço por concluído ao meio-dia. Os bombeiros da Petrogal foram muito eficazes e evitaram males maiores. A refinaria tem um aparelho bem montado e estruturado e bons meios de socorro, como carros de espuma. Mas isto não deixa de ser uma refinaria, com todos os riscos que isso implica. Quem vive aqui tem de estar consciente disso", afirmou Fernando Machado, comandante dos Voluntários de Matosinhos/ Leça.

Sócrates acompanha

A Galp Energia explicou o incêndio num lacónico comunicado, referindo que ocorreu "em resultado dos trabalhos de recuperação e modernização da refinaria", em consequência de "uma fuga numa linha de gasolina, através de um furo de cerca de um milímetro de diâmetro".

A Galp sublinhou que "foi espoletado o plano de emergência externa, que não se revelou necessário, face à pronta extinção do foco de incêndio pela equipa de bombeiros da refinaria".

O incidente, de acordo com o comunicado, "esteve relacionado com a substituição em curso de linhas de transporte de produto no interior da instalação" e a empresa referiu que "foram já substituídos mais de 40 quilómetros de tubagens".

Uma fonte do gabinete do primeiro-ministro salientou, por outro lado, que o chefe do Governo "fala sempre com o ministro da tutela (Economia) e é informado sobre os relatórios que são produzidos quando acontece alguma coisa".

Já Hugo Bastos, da Comissão de Trabalhadores, recordou que os investimentos mais avultados na refinaria "vão começar agora". "As obras em curso envolvem milhares de trabalhadores e pode haver alguma deficiência no enquadramento dessas pessoas. O furo era extremamente pequeno e poderia ser visto por quem lá estivesse ao pé. Mas não houve nada de especial e actuámos rapidamente", sublinhou.

Presidente da Câmara em 2004, ano em que ocorreu a explosão do pipeline, Narciso Miranda afirmou, ao JN, que "a Administração da Galp tem de dar garantias de segurança e o Governo já se devia ter pronunciado". "Deviam ouvir os trabalhadores, quem anda diariamente de fato-macaco a garantir a segurança das instalações e não os aparecem com ele vestido quando aparece a comunicação social", referiu.

A Câmara de Matosinhos remeteu-se ao silêncio.

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