terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Autoridades holandesas ouvem casal português vítima de máfias

Vânia e Hélder, o casal do Porto que decidiu dar a cara e falar sobre a exploração a que milhares de trabalhadores temporários portugueses estão sujeitos na Holanda, continuam sem sinais de resolução do problema que enfrentam. Embora tenham finalmente recebido, na última semana, alguma atenção das autoridades holandesas, chegou-lhes também mais uma má notícia: nenhum do dinheiro descontado ao longo de dois anos de trabalho chegou à segurança social.

A informação foi-lhes dada pela própria UWV (Agência de Segurança Social), quando tentaram perceber porque é que o organismo tardava tanto a atribuir subsídio de desemprego e doença a Hélder - que permanece a tomar doses de morfina diariamente, estando incapacitado de trabalhar. "Como é que é possível que haja recibos de ordenado com mais de quinhentos euros de descontos e nenhum desse dinheiro tenha chegado à UVW?", questiona-se o casal, que não esconde o seu espanto. "Ao fim de dois anos permanecemos como dois fantasmas para a segurança social".

Com a ajuda de Remco e Narda, o casal holandês que lhes está a dar abrigo desde que decidiram ficar na Holanda a lutar pelos seus direitos, entregaram todos os comprovativos de descontos realizados nas múltiplas agências de trabalho temporário por onde passaram. A segurança social prometeu-lhes a atribuição de subsídio no prazo de cinco dias úteis. "Esperar, esperar. Tem sido esta a nossa vida nos últimos meses".

Polícia anti-fraude contra segurança social está em campo

O casal continua a viver no minúsculo sótão, cedido pelo casal holandês
Todos os recibos de vencimento foram, na passada sexta-feira, entregues ao SIOD (Serviço Social de Investigação e Inteligência), organismo holandês que combate a criminalidade relacionada com a segurança social. "Foi-nos dito que, como a comunicação social estava a falar do caso, afinal perceberam era mais sério do que tinham imaginado". Ao fim de dois meses a reclamarem os seus direitos, foram finalmente a uma reunião que durou mais de três horas, na presença de um tradutor.

"Contámos a nossa história toda mas a única coisa que nos disseram é que não podem interferir no caso que temos em tribunal porque é uma questão civil". No entanto, pediram para ficar com todos os documentos que o casal possuía como prova do seu percurso na Holanda. "Depois de tantos desenganos, andamos paranóicos. Dissemos-lhes mesmo de caras: vamos confiar em vocês, só espero que não sejam outra máfia".

Também durante a última semana, Vânia e Hélder foram contactados pela inspecção do trabalho holandesa que diz "estar em cima deste problema das agências de trabalho temporário". Mais uma vez, foi-lhes dito que as questões de pagamentos têm de ser resolvidas em tribunal e que nada podiam fazer por eles. "Toda a gente diz que temos razão, mas ninguém pode interferir. É uma frustração", desabafa o casal.

Tristeza numa visita relâmpago a Portugal
Mais más notícias fizeram o casal voltar a Portugal. Num regresso com sabor amargo, o motivo da vinda forçada foi o pior: a morte do avô de Hélder. "Uma desgraça nunca vem só e esta foi gota de água. A família pagou-nos a viagem e fomos ao funeral".

Já de volta à Holanda, e ao minúsculo sótão onde vivem há três meses da caridade alheia, a Hélder e Vânia os cinco dias que passaram no Porto souberam a pouco. O reencontro com a filha acalmou-lhes as saudades, mas o sentimento de impaciência tornou-se maior: "Só quero que isto termine para regressar rapidamente para junto da minha menina. Sinto-me a massacrar-lhe o coração".

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